23.3.11

O homem que não sabe amar

Os fatores que diferem as reações sentimentais, emocionais e até físicas já foram exemplificados em centenas de livros, filmes e artigos. Psicanalistas explicam que a paixão, quando iniciado, gera uma imagem irreal do parceiro. É algo como o que você sonha com o que ele seja. Com o passar do tempo, e a veracidade explicita e inevitável das personalidades, você vai entendendo que nem tudo são flores. Caso as coisas boas sobressaiam as ruins, o rumo natural é seguido. Se não, um botão eject é acionado e, mesmo que aos poucos, a separação é inevitável.

Essa fase de reconhecimento do território não tem um prazo de atuação. Por mais que isso seja frustrante, não há uma validade ou cronograma exato de ações que farão as coisas terem alguns sentidos. Apenas surge, acontece e passa. Quem vive isso tem um dom: o de amar. É um cara bom, bem intencionado, que vai conhecer, se apaixonar, amar e seguir uma vida recheada de satisfação e amor a família. Esse é o cara limpo. O que um dia já foi sujo, bom, esse dificilmente será corrigido.

O amor dos homens tem um problema bastante serio e único: é absolutamente descartável. O homem ama uma vez. A segurança masculina traça uma linha continua de planos e desejos a partir do primeiro estalo. É quebrado ali um pino de segurança. A paixão deixa o homem totalmente despreparado e suscetível a qualquer acidente no caminho. Basta uma, uma única desilusão para que tudo o que foi aprendido nos filmes da Sessão da Tarde e na música pop inglesa dos anos 80 faça algum sentido: o amor não existe.

Assim surge um novo formato de ser humano. O homem que não sabe amar. Esse homem, assim como citaram psicanalistas maconheiros do século retrasado, é vitima de uma desilusão, apunhalada, traição, mentiras - chame como você quiser -, enfim, de uma sacanagem não literal da incauta que o apresentou ao romance. O homem que não sabe amar sofre de um grave trauma psicológico que gera uma dificuldade enorme de encara relacionamentos logos.

O sofrimento gera monstros. Esse tipo de resultado é capaz de destruir aquilo que foi planejado, desejado e conquistado com o maior esforço do mundo. Não importa o tamanho da satisfação adquirida e convivida com o passar do tempo. Nada supera a dor de um não, a insegurança de uma nova tristeza ou a fraqueza que impede um primeiro passo. O homem utiliza esse sentimento como defesa para evitar um novo desastre. O problema, o maior de todos os problemas, é que essa dor é deliciosamente viciante.

São vitimas do passado obscuro os que preferem o sofrimento de uma paixão incerta e platônica a segurança de um amor garantido e de balões coloridos. Como entender? Não, isso não se explica. E o pior: se explicar perde a graça. As certezas são poucas. Poucas e exclusivas. Ninguém gosta de tocar nesse assunto. Prefere viver e exemplificar em atos o que sente.

Basta observar. A partir de hoje, experimente observar. Cada vez mais o homem não quer um amor para amar. Mas sim, um amor para sofrer.

É na fossa o sentido se faz presente.