22.1.11

Perfeita Simetria

Toda vez que toca o telefone
Eu penso que é você
Toda noite de insônia
Eu penso em te escrever
Pra dizer
Que o teu silêncio me agride
E não me agrada ser
Um calendário do ano passado
Prá dizer que teu crime me cansa
E não compensa entrar na dança
Depois que a música parou
A música parou (parou)
Toda vez que toca o telefone
Eu penso que é você
Toda noite de insônia
Eu penso em te escrever
Escrever uma carta definitiva
Que não dê alternativa
Prá quem lê
Te chamar de carta fora do baralho
Descartar, embaralhar você
E fazer você voltar
Ao tempo em que nada
Nos dividia
Havia motivo pra tudo
E tudo era motivo pra mais
Era perfeita simetria
Éramos duas metades iguais
Ao tempo em que nada
Nos dividia
Havia motivo pra tudo
E tudo era motivo pra mais
Era perfeita simetria
Éramos duas metades iguais
O teu maior defeito
Talvez seja a perfeição
Tuas virtudes
Talvez não tenham solução
Então pegue o telefone
Ou um avião
Deixe de lado
Os compromissos marcados
Perdoa o que puder ser perdoado
Esquece o que não tiver perdão
E vamos voltar aquele lugar
vamos voltar

Ao tempo em que nada
nos dividia
Havia motivo para tudo e tudo era motivo para mais
Era perfeita simetria
Éramos duas metades iguais.

16.1.11

Não ame!

É sério! Afirmo categoricamente: Não Ame!
O que o amor nos traz? Em um primeiro momento ficamos bobos, eufóricos, cheio dos sorrisos. Cumprimentamos os vizinhos mais felizes, os problemas parecem não pesar mais tanto, as horas no trabalho parecem passar mais rápido, o final-de-semana parece ser mais diveritido. Mas e depois? Porque uma hora acaba. É inevitável, afinal o que mais escutamos são histórias de amores imperfeitos, fulminantes que acabaram deixando os envolvidos lastimados, de coração empedrado e isso acaba afetando não só a pessoa, como quem está na volta.
Tudo tem um fim, e o "pra sempre", sempre acaba diria Cassia Eller. Nosso maior erro, é achar, e crer que o amor tem garantias, que ele irá superar todas nossas expectativas e acabamos esquecendo que o relacionamento é composto por pessoas, por seres humanos que são imperfeitos, incostantes e de pensamentos voláteis. E quando uma destas pessoas por "n" motivos resolve mudar seus pensamentos, e suas promessas já não se tornam tão atraentes de cumprir, o encanto acaba e aí vem o sofrimento.
Esse sofrimento que vem junto com uma dor apertada que parece que crava em ti, e toma mais tempo dentro do teu pensamento do que o sentimento que te fazia sorrir antes da outra pessoa acabar. Esse aperto eu diria que é mais forte que o amor, pois é da natureza do ser humano lembrar mais das coisas ruins do que das coisas boas, e o que acaba restando é apenas a experiência de uma relação que não deu certo e a lembrança ruim de uma coisa que supostamente foi boa.
E é aí que chegamos a grande pergunta: Vale a pena? Vale a pena passar por todas situações, se abrir, deixar a outra pessoa saber tudo de ti, fazer parte da tua vida, compartilhar segredos, pra um dia acabar e restar mágoa e um sentimento de que poderia ter sido melhor?
Muitos vão categorizar este texto como amargurado, mesquinho e todos substantivos e qualificações possíveis. Mas acho que estas são pessoas que amam fácil demais, ou que não amaram de verdade, o que no final das contas é mesma coisa.
Voltamos nossas energias para a carreira, para os estudos, para os amigos, familia e tudo mais. Mas a maior parte dos nossos pensamentos e energia, são voltados para o amor, a alma-gêmea, e quando se perde isso, todo o resto fica afetado, por isso eu respondo a pergunta acima com a mesma afirmativa em que comecei este texto: Não vale!

8.1.11

Se escrevo agora, é tão somente para dar notícias de como anda minha saúde – ou melhor, minha doença.

A primeira coisa que posso dizer é que estou vivo – e isso você pode já ter percebido, considerando que estou escrevendo aqui.

A segunda coisa é que não sei ainda por quanto tempo. Talvez uns dias, talvez muitos anos. Isso nós nunca podemos precisar – a não ser que eu escreva um livro ou vire presidente do Senado e, assim, seja nomeado para a Academia Brasileira de Letras.

A terceira coisa que tenho a dizer sobre minha saúde é que a tosse ainda não melhorou. Continuo tossindo constantemente, apesar de estar bebendo litros de xarope diariamente. Do xarope, eu falo logo mais.

O fato é que tenho me medicado. O mais difícil tem sido passar Vick Vaporub nas costas. Tentando fazê-lo, tive uma espécie de torção estranha nos dois braços e nunca mais saí da posição. Desde então, tenho precisado fazer tudo com as mãos nas costas. Literalmente.

É como se eu estivesse algemado. Lembro bem dessa sensação, de quando fui preso por terem me confundido com um sujeito que havia devolvido a fita cassete na locadora sem rebobinar. Colocaram o FBI atrás dele e os agentes pensaram ter sido eu, por conta do começo com a letra "I" no nome: meu nome é Iuri e ele se chamava Ivolanda. Felizmente, tudo foi esclarecido antes que eu fosse para a solitária. As leis quanto à devolução de fitas cassetes não-rebobinadas são sérias.

Mas não é isso que vem ao caso.

Escrever não tem sido difícil. Uso o nariz para as letras e desenvolvi uma técnica para apertar o “shift” com as pontas das orelhas – podendo, assim, digitar as maiúsculas com certa agilidade que o “caps lock” não me permitiria ter.

O chato mesmo é trocar a camisa com as mãos presas atrás. Inexplicavelmente, eu até consigo colocar uma camisa nova. Mas para tirar, só estufando muito o peito e rasgando. Como o Hulk.

Tenho rasgado muitas camisas e agora só me restam umas camisetas de bandas obscura de foxtrot dos anos 30. Aquilo sim é que foi tempo para se viver.

De qualquer modo, os médicos deram um diagnóstico: pode ser escorbuto ou a Peste Negra. Receitaram que eu fosse queimado em uma fogueira, mas eu abri uma exceção nesse caso e resolvi adotar a medicina alternativa.

Tenho tomado bastante chá, mel e deitado meu corpo em brasa. O xamã garantiu que funcionaria melhor que o xarope e o Vick Vaporub. Não é o melhor dos xamãs, mas é o único que o plano de saúde cobre.

Com a tosse, ando pensando muito na minha morte. Quero o Requiem de Mozart no meu funeral. Já encomendei a orquestra para tocar o Kyrie e o grupo cubano para executar o Confutatis – sempre achei que essa parte da obra pedia uma certa malemolência latina.

Também vi recentemente um trecho de o Sétimo Selo e espero, sinceramente, que a Morte não apareça para jogar xadrez comigo. Nunca consegui jogar xadrez, porque acabo irritando o adversário: sempre que movo o cavalo faço o som do galope (“pocotó, pocotó…”) e dizem que isso não é de bom tom.

Mas se ela, a Morte, topar me fazer companhia para uma partida de Imagem & Ação, aí talvez seja uma boa.