19.3.13

Com o pé na pista


Sim, sou um amante da velocidade. Já competi na Fórmula 1. Era uma equipe pequena, bem pequena. Na verdade, ela nem estava registrada no campeonato e eu corria clandestinamente, invadindo a pista discretamente pouco antes da largada.

Competir na Fórmula 1 é uma coisa desgastante. Nas pistas, o pessoal dirige feito louco. Ninguém respeitava quando eu dava a seta, por exemplo.
Também era bastante difícil encostar para dar carona a alguém. Não sei se você sabe, mas nas pistas de Fórmula 1 o transporte público é bastante precário e a carona é a única opção viável para quem não está competindo.

E então, de vez em quando aparecia alguém pedindo carona. Eu tentava encostar, mas era um risco. Os outros carros tiravam fino de mim, quase me acertavam. Levar uma batida na Fórmula 1 era uma coisa que me preocupava muito, porque iria arruinar a pintura dos patrocinadores.

Por isso mesmo, eu dirigia bem devagar e procurava pegar as vias menos movimentadas. Eu sabia um caminho no circuito de Jerez de La Frontera que era mais longo, mas não tinha trânsito nenhum. E ainda passava por uma padaria que tinha um misto quente ótimo.

Abandonei as competições porque o serviço nos boxes estava ficando péssimo. Eu achava aquela pressa toda no atendimento um descaso com os clientes – nem pra passar um paninho no pára-brisa. E, de quebra, eles não ofereciam nenhum programa de fidelidade, promoção de sorteio de carro ou nem mesmo um chaveirinho bonito para eu colocar a chave do meu Fórmula 1.