9.1.12

Minha história com a arte

Tenho um vizinho leiloeiro. A princípio, pensei que ele fosse marceneiro. Mas é um leiloeiro perfeccionista. Ele fica ensaiando a batida do martelo diariamente. No entanto, nunca reclamei. Não me incomoda o bastante e até me traz boas lembranças da época em que eu era colecionador de arte.

Naquele tempo, eu frequentava leilões com certo afinco. Comprei alguns quadros importantes. Como um do Goya, da fase negra. Bem negra mesmo. Um borrão de tinta preta, na verdade. Ninguém tem muita certeza se é do Goya mesmo, porque a assinatura também está em tinta preta.

Mas não é esse o meu quadro preferido. Gosto muito de um de Chong Li, um pouco conhecido pintor austríaco da Renascença. O quadro tem o nome de “Mulher Cavalgando nas Relvas” e retrata uma máquina de lavar abandonada na escada de um prédio.

No auge da minha obssessão, gastei uma fortuna em uma versão ampliada de “Cristo Lavando os Pés dos Discípulos”, que Tintoretto havia jogado fora porque não coube sobre a lareira.

Acabei me desfazendo da coleção por problemas de espaço. Não tinha parede o suficiente em casa para guardar a coleção e, então, comecei a erguer divisórias em todos os cômodos. Só na sala, fiz oito paredes. Ficou muito difícil encontrar o caminho até o banheiro.

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