8.11.12

O dia que quase fui à lua!

De vez em quando eu fico na varanda à noite olhando o céu, tentando vislumbrar a imensidão do universo. Não consigo vislumbrar muito longe, na verdade: o máximo do universo que dá para ver da minha varanda são os velhos prédios da Avenida Protásio Alves. O céu propriamente dito é constantemente ofuscado pelas luzes que batem nas nuvens (ou na camada de poluição).

Acontece que, ainda assim, olhando para o alto eu percebo que além dos velhos prédios da Protásio Alves, das nuvens e da camada de poluição, há um número incalculável de coisas. Esse tipo de pensamento faz com que eu me sinta bem pequeno, irrelevante. E então, o inevitável acontece. Começo a filosofar.

Diante da imensidão do universo, será que é mesmo relevante agitar o Toddynho antes de beber?

Existe doce de leite lá fora?

Por conta da distância em anos-luz, a imagem que nos chega dos diversos pontos do universo é de galáxias que existiram bilhões de anos atrás. Então não seria simpático a gente mostrar os números atuais da loteca para eles?

Não é de hoje que eu penso nisso. Certa vez, em busca desse tipo de resposta, ofereci-me de voluntário para um programa da Agência Aeroespacial Clandestina do Sumatra. Não era nada muito oficial. Estávamos em plena Guerra Fria e eles eram um grupo que queria entrar na corrida espacial. Tinham planos de ir à lua e eu comecei o treinamento para tripular a missão.

Não foi um treinamento fácil. Eu precisava aprender a aguentar a intensa propulsão de um foguete na decolagem, suportar a gravidade zero e – o mais difícil – entender o que se fala naquele radinho cheio de chiado usado em missões espaciais.

(Ao que consta, Neil Armstrong na verdade havia dito, ao pisar na lua: “acho que esqueci o gás ligado em casa”. Mas com toda aquela estática na transmissão, entenderam a história do pequeno passo, grande salto.)

Mas eu passei no treinamento. Tive especial aproveitamento nas aulas de etiqueta espacial, onde aprendíamos as combinações mais elegantes de sapato com traje espacial.

Estava tudo pronto para o lançamento e nós chegaríamos à lua antes de todo mundo. Mas atrasamos porque eu quis fazer uma boa fita cassete para colocar no caminho – Pink Floyd teria um certo clima, mas acabei optando por Beach Boys para dar uma animada. Por conta disso, os americanos acabaram chegando lá primeiro.

Vendo as imagens da NASA na lua, o pessoal da Agência Aeroespacial Clandestina do Sumatra acabou desistindo da ideia: a vista de lá era até bonita, mas não havia muito o que se fazer na lua. Acabaram nos mandando para as Bahamas, que tinha um custo-benefício muito melhor.

Não posso reclamar. A insignificância do ser humano diante da vastidão do universo fica bem agradável quando se está deitado em uma espreguiçadeira ao sol.

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