Há um tempo fui atacado por uma crise de soluço. De lá para cá não passou ainda. Continuo soluçando descontroladamente. Os soluços começaram a substituir os pontos finais nas minhas falas.
Aparentemente, todas as curas para o soluço consistem em fazer papel de ridículo de diferentes maneiras: beber água de cabeça para baixo, levar um susto, fazer a coreografia de Macarena de trás para frente, pegar fila, colocar um saco plástico na cabeça e ir assim à padaria mais próxima pedir um sonho.
Todo mundo sempre tem uma cura para o soluço. E nunca é algo que você gostaria de fazer em público.
Ainda assim, tentei de tudo. Nada funcionou. Esse soluço é bastante grave. Não é daqueles que curam fácil.
Não seria um problema tão grave se eu não tivesse sido convidado para dar uma palestra sobre as possíveis saídas para a crise na Europa.
Como era de se esperar, a palestra foi um fracasso. Em parte, claro, porque eu não sei quais são as possíveis saídas e improvisei o conteúdo na hora, recitando pedaços de letras de música e misturando com os poucos textos marxistas de que lembro que estudei em um passado recente na faculdade.
Mas o soluço também não ajudou em nada. Basta soluçar no meio de uma frase para que ela perca completamente a credibilidade. Ninguém levou em consideração nada do que eu disse – exceto um sujeito que pareceu tomar nota quando eu disse:
- A história de toda a sociedade até hoje nada mais é que a história da luta entre as classes. Eu sou o homem-ovo, eu sou a morsa. Hic.
Percebi que meu discurso não havia atingido a maioria da plateia quando abriram o microfone para perguntas, estimulando o debate, e tudo que o pessoal fez foi dar dicas para curar o meu soluço.
18.1.13
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