Compenso minha falta de talento procurando andar na companhia de pessoas realmente talentosas . Mas andar com artista, você sabe, é um problema.
Já frequentei muitos almoços e festas de artista, tudo com droga liberada. Da última vez, por exemplo, o Atroveran estava rolando solto. Tenho a impressão de ter visto até mesmo alguns comprimidos de Buscopan, mas eu que não sou chegado a essas coisas fiquei só no Atroveran. Eu também não queria me passar por careta e acabei aceitando um comprimido. Não iria aguentar a pressão do grupo.
Ao que parece, esse pessoal usa o Atroveran para “expandir os horizontes e aumentar a percepção do mundo imaterial” ou coisa parecida. Eu nunca entendi muito bem essas coisas porque o meu único contato com o mundo imaterial foi quando roubaram o toca-fitas do meu carro deixando aquele vazio no painel, muito tempo atrás.
Quando todos os convidados já estavam tomados pelos efeitos do Atroveran, alguém propôs um brinde a Gaia, Mãe da Terra, e ao seu primo de segundo grau, um tal de Serjão. A coisa foi ficando esquisita. E finalmente quando puxaram o violão e ameaçaram cantar O Trem Azul de trás pra frente em sincronia com O Mágico de Oz, achei melhor ir embora.
Você sabe que o caminho do Atroveran é um caminho sem volta. Já vi pessoas acabarem caindo no Imosec depois, em busca de emoções mais fortes.
Cheguei em casa e tomei um banho gelado para passar o efeito. Eu estava preocupado porque, no meio da viagem de Atroveran, eu me vi fazendo tererê em turista na Avenida Paulista para sustentar o meu novo estilo de vida alternativo.
Não nasci para isso de ser hippie. Estou ficando careca demais. E além disso, usar sandália de palha nessa chuva ia acabar me dando um baita de um resfriado.
29.6.12
12.6.12
Os românticos
Um repórter de TV foi entrevistar aquelas cantoras que participaram de um especial com o Roberto Carlos, há poucos dias. Microfone em punho, abordou a Hebe Camargo. Quis saber:
— Por que Roberto Carlos é o Rei?
A Hebe, depois de uma miada:
— Porque ele é romântico...
Uma grave injustiça conosco, os demais homens, presumíveis súditos de RC. Pelo seguinte: pense em todas as músicas que existem no mundo, milhões delas, talvez bilhões. Em toda a poesia e a literatura. Os filmes. Do que tratam os filmes, a poesia e a música alguma vez já compostos sobre a Terra?
Do amor.
Amor, amor. Noventa por cento das músicas, dos filmes e dos poemas são sobre o amor.
Por que isso? Por nossa causa, nós homens. Porque somos românticos.
As mulheres acham que não. Acham que elas são as românticas. Estão erradas, e a prova disso é o dia de hoje, o Dia dos Namorados. Para quem o Dia dos Namorados foi criado? Obviamente, para as mulheres. Alguém há de dizer que se trata de uma efeméride urdida para satisfazer o romantismo feminino. Mas não. Porque o romantismo não pode estar assinalado no calendário. O romantismo é o que exsuda de um peito dolorido. Quando o Chico Buarque escreveu:
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
Quando o Chico escreveu esses versos, ele não os escreveu porque quis. Escreveu porque tinha de escrever. Porque sentia. Porque via aquela estátua de carne desfilando ali ao lado e precisava gritar o que sentia. E Paulinho da Viola, no dia em que ele cantou:
Ela declarou recentemente
Que ao meu lado não tem mais prazer
No dia em que Paulinho cantou esses versos, ele não os cantou; chorou. Os versos rasgavam seu coração — ela não sentia mais prazer ao lado dele.
E Lupicínio! Todas as músicas de Lupicínio, absolutamente todas, contam uma história de sofrimento. Se não sofresse, Lupicínio não escreveria:
Nunca, nem que o mundo caia sobre mim
Nem se Deus mandar, nem mesmo assim
A teus braços eu não voltarei!
Eis aí. Nós homens sofremos. Somos autênticos em nosso romantismo, e o romantismo só é autêntico se temperado pela dor. Um romantismo que flui todos os dias e se transforma em filmes, música e poemas, quase sempre compostos por atormentadas almas masculinas. Por isso é injusto quando as mulheres dizem que RC é rei por ser romântico. Não pode alguém se destacar por uma característica que todos os seus congêneres possuem. Todos os homens somos românticos. Todos, de caminhoneiros que lacrimejam ao ouvir versos de duplas goianas no asfalto escaldante da estrada a empresários que mergulham o diamante da amada numa taça de Dom Perignon. Todos! As mulheres? As mulheres precisam de datas, porque datas são símbolos. Símbolos de compromisso, que é o que lhes importa, afinal. O compromisso! Elas são práticas, elas marcam dias, elas planejam cerimônias. E nós aqui sofremos, nós homens, os verdadeiros românticos, que não precisamos de datas para sentir.
Texto retirado do (na minha opnião) ótimo David Coimbra.
— Por que Roberto Carlos é o Rei?
A Hebe, depois de uma miada:
— Porque ele é romântico...
Uma grave injustiça conosco, os demais homens, presumíveis súditos de RC. Pelo seguinte: pense em todas as músicas que existem no mundo, milhões delas, talvez bilhões. Em toda a poesia e a literatura. Os filmes. Do que tratam os filmes, a poesia e a música alguma vez já compostos sobre a Terra?
Do amor.
Amor, amor. Noventa por cento das músicas, dos filmes e dos poemas são sobre o amor.
Por que isso? Por nossa causa, nós homens. Porque somos românticos.
As mulheres acham que não. Acham que elas são as românticas. Estão erradas, e a prova disso é o dia de hoje, o Dia dos Namorados. Para quem o Dia dos Namorados foi criado? Obviamente, para as mulheres. Alguém há de dizer que se trata de uma efeméride urdida para satisfazer o romantismo feminino. Mas não. Porque o romantismo não pode estar assinalado no calendário. O romantismo é o que exsuda de um peito dolorido. Quando o Chico Buarque escreveu:
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
Quando o Chico escreveu esses versos, ele não os escreveu porque quis. Escreveu porque tinha de escrever. Porque sentia. Porque via aquela estátua de carne desfilando ali ao lado e precisava gritar o que sentia. E Paulinho da Viola, no dia em que ele cantou:
Ela declarou recentemente
Que ao meu lado não tem mais prazer
No dia em que Paulinho cantou esses versos, ele não os cantou; chorou. Os versos rasgavam seu coração — ela não sentia mais prazer ao lado dele.
E Lupicínio! Todas as músicas de Lupicínio, absolutamente todas, contam uma história de sofrimento. Se não sofresse, Lupicínio não escreveria:
Nunca, nem que o mundo caia sobre mim
Nem se Deus mandar, nem mesmo assim
A teus braços eu não voltarei!
Eis aí. Nós homens sofremos. Somos autênticos em nosso romantismo, e o romantismo só é autêntico se temperado pela dor. Um romantismo que flui todos os dias e se transforma em filmes, música e poemas, quase sempre compostos por atormentadas almas masculinas. Por isso é injusto quando as mulheres dizem que RC é rei por ser romântico. Não pode alguém se destacar por uma característica que todos os seus congêneres possuem. Todos os homens somos românticos. Todos, de caminhoneiros que lacrimejam ao ouvir versos de duplas goianas no asfalto escaldante da estrada a empresários que mergulham o diamante da amada numa taça de Dom Perignon. Todos! As mulheres? As mulheres precisam de datas, porque datas são símbolos. Símbolos de compromisso, que é o que lhes importa, afinal. O compromisso! Elas são práticas, elas marcam dias, elas planejam cerimônias. E nós aqui sofremos, nós homens, os verdadeiros românticos, que não precisamos de datas para sentir.
Texto retirado do (na minha opnião) ótimo David Coimbra.
2.6.12
Saudade
Alguém lembra: Thomas Green Morton? O cara aquele que tinha uma lâmpada em alguma parte do corpo, só não me perguntem onde e quantos watts eram. Fazia apresentações, curava mazelas, dava entrevistas, ganhava dinheiro e gritava Rá! Nunca consegui desvinculá-lo do Sérgio Mallandro.
Sabe, estou com saudades desse tempo de assistir coisas aparentemente impressionantes. Mesmo que fakes - e não circulavam nem sequer na meia verdade -, tínhamos ao menos o desafio de querer saber: “Peraí, como ele fez isso?”. Quem sabe depois mostrar no almoço da família no domingo.
Lembro, com essa, o mestre do ocultismo Chico Xavier. O precursor do “retweet”. Sobre ele, em mim, sempre pairou uma observação inquietante: ele nunca psicografou um professor de caligrafia.
Sabe, estou com saudade desse tempo onde a TV era uma caixa simples e misteriosa. Eu soletrava a marca Telefunken com uma dificuldade assombrosa. Os filmes tinham apenas atores e uma boa história. A gente acreditava até em coisas que não existiam, como o tubarão do Tubarão e as luzes do Thomas. Hoje, nem ET impressiona. Algo tão banal que ainda iremos topar em alguma fila de um bolsa-família.
E o vidente? Outrora símbolo de fascínio, hoje não passa de combustível de piadas previsíveis. Proponho testar a veracidade de algum em um jogo de roleta-russa. E o Inri Cristo. Será que se dermos um tiro ele ressuscita? Vamos testar.
Tenho saudades de um tempo em que pra se dar um “oi” era preciso avistar a pessoa. Hoje, crianças de 10, 12, se conhecem mais pela Internet do que na escola. Até a gente mesmo diz que morre de saudades pelo Orkut, mas se abstém de uma visita ao vizinho, ali, 300 metros.
Havia um tempo em que sempre aparecia algo original na música, na arte. Hoje tornou-se obscuro saber o que é diferente. Mesmo o estranho parece já ter sido feito por alguém. O incomum é mais rotineiro do que nunca.
Sabe, estou com saudade desse tempo onde a gente mandava o nostálgico ir se atualizar; o idealista, trabalhar; e o utópico, à merda. É muita saudade de tudo e de todos. Saudade, inclusive, daquele RÁ!
Sabe, estou com saudades desse tempo de assistir coisas aparentemente impressionantes. Mesmo que fakes - e não circulavam nem sequer na meia verdade -, tínhamos ao menos o desafio de querer saber: “Peraí, como ele fez isso?”. Quem sabe depois mostrar no almoço da família no domingo.
Lembro, com essa, o mestre do ocultismo Chico Xavier. O precursor do “retweet”. Sobre ele, em mim, sempre pairou uma observação inquietante: ele nunca psicografou um professor de caligrafia.
Sabe, estou com saudade desse tempo onde a TV era uma caixa simples e misteriosa. Eu soletrava a marca Telefunken com uma dificuldade assombrosa. Os filmes tinham apenas atores e uma boa história. A gente acreditava até em coisas que não existiam, como o tubarão do Tubarão e as luzes do Thomas. Hoje, nem ET impressiona. Algo tão banal que ainda iremos topar em alguma fila de um bolsa-família.
E o vidente? Outrora símbolo de fascínio, hoje não passa de combustível de piadas previsíveis. Proponho testar a veracidade de algum em um jogo de roleta-russa. E o Inri Cristo. Será que se dermos um tiro ele ressuscita? Vamos testar.
Tenho saudades de um tempo em que pra se dar um “oi” era preciso avistar a pessoa. Hoje, crianças de 10, 12, se conhecem mais pela Internet do que na escola. Até a gente mesmo diz que morre de saudades pelo Orkut, mas se abstém de uma visita ao vizinho, ali, 300 metros.
Havia um tempo em que sempre aparecia algo original na música, na arte. Hoje tornou-se obscuro saber o que é diferente. Mesmo o estranho parece já ter sido feito por alguém. O incomum é mais rotineiro do que nunca.
Sabe, estou com saudade desse tempo onde a gente mandava o nostálgico ir se atualizar; o idealista, trabalhar; e o utópico, à merda. É muita saudade de tudo e de todos. Saudade, inclusive, daquele RÁ!
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