2.6.12

Saudade

Alguém lembra: Thomas Green Morton? O cara aquele que tinha uma lâmpada em alguma parte do corpo, só não me perguntem onde e quantos watts eram. Fazia apresentações, curava mazelas, dava entrevistas, ganhava dinheiro e gritava Rá! Nunca consegui desvinculá-lo do Sérgio Mallandro.

Sabe, estou com saudades desse tempo de assistir coisas aparentemente impressionantes. Mesmo que fakes - e não circulavam nem sequer na meia verdade -, tínhamos ao menos o desafio de querer saber: “Peraí, como ele fez isso?”. Quem sabe depois mostrar no almoço da família no domingo.

Lembro, com essa, o mestre do ocultismo Chico Xavier. O precursor do “retweet”. Sobre ele, em mim, sempre pairou uma observação inquietante: ele nunca psicografou um professor de caligrafia.

Sabe, estou com saudade desse tempo onde a TV era uma caixa simples e misteriosa. Eu soletrava a marca Telefunken com uma dificuldade assombrosa. Os filmes tinham apenas atores e uma boa história. A gente acreditava até em coisas que não existiam, como o tubarão do Tubarão e as luzes do Thomas. Hoje, nem ET impressiona. Algo tão banal que ainda iremos topar em alguma fila de um bolsa-família.

E o vidente? Outrora símbolo de fascínio, hoje não passa de combustível de piadas previsíveis. Proponho testar a veracidade de algum em um jogo de roleta-russa. E o Inri Cristo. Será que se dermos um tiro ele ressuscita? Vamos testar.

Tenho saudades de um tempo em que pra se dar um “oi” era preciso avistar a pessoa. Hoje, crianças de 10, 12, se conhecem mais pela Internet do que na escola. Até a gente mesmo diz que morre de saudades pelo Orkut, mas se abstém de uma visita ao vizinho, ali, 300 metros.

Havia um tempo em que sempre aparecia algo original na música, na arte. Hoje tornou-se obscuro saber o que é diferente. Mesmo o estranho parece já ter sido feito por alguém. O incomum é mais rotineiro do que nunca.

Sabe, estou com saudade desse tempo onde a gente mandava o nostálgico ir se atualizar; o idealista, trabalhar; e o utópico, à merda. É muita saudade de tudo e de todos. Saudade, inclusive, daquele RÁ!

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