Um repórter de TV foi entrevistar aquelas cantoras que participaram de um especial com o Roberto Carlos, há poucos dias. Microfone em punho, abordou a Hebe Camargo. Quis saber:
— Por que Roberto Carlos é o Rei?
A Hebe, depois de uma miada:
— Porque ele é romântico...
Uma grave injustiça conosco, os demais homens, presumíveis súditos de RC. Pelo seguinte: pense em todas as músicas que existem no mundo, milhões delas, talvez bilhões. Em toda a poesia e a literatura. Os filmes. Do que tratam os filmes, a poesia e a música alguma vez já compostos sobre a Terra?
Do amor.
Amor, amor. Noventa por cento das músicas, dos filmes e dos poemas são sobre o amor.
Por que isso? Por nossa causa, nós homens. Porque somos românticos.
As mulheres acham que não. Acham que elas são as românticas. Estão erradas, e a prova disso é o dia de hoje, o Dia dos Namorados. Para quem o Dia dos Namorados foi criado? Obviamente, para as mulheres. Alguém há de dizer que se trata de uma efeméride urdida para satisfazer o romantismo feminino. Mas não. Porque o romantismo não pode estar assinalado no calendário. O romantismo é o que exsuda de um peito dolorido. Quando o Chico Buarque escreveu:
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
Quando o Chico escreveu esses versos, ele não os escreveu porque quis. Escreveu porque tinha de escrever. Porque sentia. Porque via aquela estátua de carne desfilando ali ao lado e precisava gritar o que sentia. E Paulinho da Viola, no dia em que ele cantou:
Ela declarou recentemente
Que ao meu lado não tem mais prazer
No dia em que Paulinho cantou esses versos, ele não os cantou; chorou. Os versos rasgavam seu coração — ela não sentia mais prazer ao lado dele.
E Lupicínio! Todas as músicas de Lupicínio, absolutamente todas, contam uma história de sofrimento. Se não sofresse, Lupicínio não escreveria:
Nunca, nem que o mundo caia sobre mim
Nem se Deus mandar, nem mesmo assim
A teus braços eu não voltarei!
Eis aí. Nós homens sofremos. Somos autênticos em nosso romantismo, e o romantismo só é autêntico se temperado pela dor. Um romantismo que flui todos os dias e se transforma em filmes, música e poemas, quase sempre compostos por atormentadas almas masculinas. Por isso é injusto quando as mulheres dizem que RC é rei por ser romântico. Não pode alguém se destacar por uma característica que todos os seus congêneres possuem. Todos os homens somos românticos. Todos, de caminhoneiros que lacrimejam ao ouvir versos de duplas goianas no asfalto escaldante da estrada a empresários que mergulham o diamante da amada numa taça de Dom Perignon. Todos! As mulheres? As mulheres precisam de datas, porque datas são símbolos. Símbolos de compromisso, que é o que lhes importa, afinal. O compromisso! Elas são práticas, elas marcam dias, elas planejam cerimônias. E nós aqui sofremos, nós homens, os verdadeiros românticos, que não precisamos de datas para sentir.
Texto retirado do (na minha opnião) ótimo David Coimbra.
12.6.12
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