29.6.12

Expandindo os horizontes

Compenso minha falta de talento procurando andar na companhia de pessoas realmente talentosas . Mas andar com artista, você sabe, é um problema.

Já frequentei muitos almoços e festas de artista, tudo com droga liberada. Da última vez, por exemplo, o Atroveran estava rolando solto. Tenho a impressão de ter visto até mesmo alguns comprimidos de Buscopan, mas eu que não sou chegado a essas coisas fiquei só no Atroveran. Eu também não queria me passar por careta e acabei aceitando um comprimido. Não iria aguentar a pressão do grupo.

Ao que parece, esse pessoal usa o Atroveran para “expandir os horizontes e aumentar a percepção do mundo imaterial” ou coisa parecida. Eu nunca entendi muito bem essas coisas porque o meu único contato com o mundo imaterial foi quando roubaram o toca-fitas do meu carro deixando aquele vazio no painel, muito tempo atrás.

Quando todos os convidados já estavam tomados pelos efeitos do Atroveran, alguém propôs um brinde a Gaia, Mãe da Terra, e ao seu primo de segundo grau, um tal de Serjão. A coisa foi ficando esquisita. E finalmente quando puxaram o violão e ameaçaram cantar O Trem Azul de trás pra frente em sincronia com O Mágico de Oz, achei melhor ir embora.

 Você sabe que o caminho do Atroveran é um caminho sem volta. Já vi pessoas acabarem caindo no Imosec depois, em busca de emoções mais fortes. Cheguei em casa e tomei um banho gelado para passar o efeito. Eu estava preocupado porque, no meio da viagem de Atroveran, eu me vi fazendo tererê em turista na Avenida Paulista para sustentar o meu novo estilo de vida alternativo.

 Não nasci para isso de ser hippie. Estou ficando careca demais. E além disso, usar sandália de palha nessa chuva ia acabar me dando um baita de um resfriado.

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